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O bloco da faxina no mangue

Grupo dedicado ao reflorestamento urbano se mobiliza para retirar lixo de um manguezal recém-descoberto na enseada de Botafogo

Reportagem do Jornal do Brasil de 24.02.19


CELINA CÔRTES


Às vésperas do carnaval, um grupo evoluiu ontem sem samba de enredo ou cuíca, porém, com muita força de vontade e ideologia. Eles passaram a manhã removendo lixo da enseada de Botafogo, na Zona Sul, no local onde o arquiteto José Guimaraens, especializado em paisagismo, flagrou o nascimento de um manguezal. Era o início do ano, quando Guimaraens, coordenador do grupo Reflorestamento Urbano, dava sua habitual corrida pelo Aterro do Flamengo. De repente, se deparou com a boa nova: exemplares de Rhizophora mangle, as plantas que originam os manguezais, brotaram em meio a pedras e lixo daquela orla degradada. De onde surgiram essas plantas é uma pergunta para a qual o paisagista ainda não tem uma explicação.

Por isso mesmo, o grupo instalou ali uma placa, alertando não apenas a população para o fenômeno, como também os funcionários da Comlurb, para que ninguém seja surpreendido com alguma indesejável destruição daqueles arbustos que podem chegar a 5m de altura. O Reflorestamento Urbano, por sinal, nasceu há quatro anos "para preencher lacunas deixadas pela Fundação Parques e Jardins. Eles não têm um mapeamento das árvores da cidade e quem as corta é a Comlurb, que vem cometendo uma série de podas equivocadas. Eles deixam apenas tocos dos troncos, em vez de fazer podas transversais", lamenta Guimaraens.


Quem bateu ponto para prestigiar a iniciativa de ontem foi a presidente da Associação de Moradores de Botafogo, Regina Chiaradia. "Para nós, o surgimento desse mangue foi uma boa surpresa, ver a natureza reagindo, querendo ressurgir nessa costa tão degradada. Damos apoio ao movimento e faremos tudo para que o que se fez aqui seja algo construtivo", afirmou.

Foram necessários muitos sacos para recolher o lixo espalhado, contudo, todos ali tinham a consciência de que se tratava de uma ação simbólica, porque na primeira maré cheia a sujeira volta, sem trégua. Guimaraens ressaltou que o Parque do Flamengo, projeto desenvolvido pelo paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) em área de aterros sucessivos, com 1.200.000m², inaugurado em 1965, ficou inacabado naquele ponto. "Era para ter mais árvores nesse trecho", observou. Contudo, ele não tem a menor dúvida de que Marx, ecologista como foi, ficaria satisfeito com o inusitado uso daquele trecho específico. E avisou: "Não vamos pedir autorização a ninguém. Trata-se de um nítido caso em que a natureza pede socorro".



Foto: Marcos Tristão

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