POR LUISA VALLE / LÍVIA NEDER
23/06/2018 14:58 / atualizado 24/06/2018 10:52
https://oglobo.globo.com/rio/moradores-de-botafogo-denunciam-desordem-em-ruas-do-bairro-durante-madrugada-22814606?
RIO - O Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado no fim do ano passado entre representantes de estabelecimentos comerciais e associações de moradores de Botafogo com regras de convivência parece não estar surtindo o efeito esperado. Moradores contam que os bares da região conhecida como 'Baixo Botafogo' parecem não conhecer limites. Comerciantes se defendem e afirmam que não permitem música na área externa.
- As pessoas ficam no meio da rua, bebendo, ouvindo música até 5h, 6h. E não adianta chamar a polícia, se não eu teria que descer, ir até o bar, fazer um boletim que com certeza não iria surtir nenhum efeito - conta a jornalista Tatiana Wolff, que mora na altura das ruas Mena Barreto e Sorocaba.
A jornalista conta que além de colocarem as mesas e cadeiras na calçada, alguns bares promovem shows de bandas. Nesta madrugada, ela filmou o momento que um grupo musical fazia uma 'apresentação' em plena calçada, embaixo de um prédio comercial:
- Parece que o barulho está dentro da minha casa, acorda meus filhos. E fica ainda uma fila de taxistas na rua para levar as pessoas para casa, falando alto, gritando. E o pior é que nem sempre as bandas que aparecem são dos bares, eles surgem do nada.
O TAC estabelece o cumprimento dos horários de fechamento dos bares, proibição de música amplificada na rua e espaço livre de dois metros na calçada para a circulação de pedestres. Na comunidade do Facebook onde o vídeo de Tatiana foi postado, vários internautas se manifestaram. Muitos reclamaram ainda do uso indiscriminado de drogas no local.
"Uma imagem vale mais que mil palavras. Mas isso é apenas uma parte do problema. A outra é o consumo indiscriminado de drogas. Estre trecho tem traficante fixo", denunciou um morador da região.
Regina Chiaradia, presidente da Associação de Moradores e Amigos de Botafogo (Amab), confirma a denúncia. Segundo ela, além do barulho, o uso de drogas é outro problema que eles enfrentam.
- Ninguém quer fechar bar, até porque dá empregos em época de crise. Mas é preciso haver um equilíbrio. Já foram realizadas diversas reuniões com donos de bares, prefeitura, mas eles voltam a fazer o mesmo - afirma Regina, que lembra que as fiscalizações são feitas, mas que rapidamente os bares voltam a atuar de forma irregular:
- Não adianta apenas alguns se adequarem, pois eles olham o comerciante do lado fazendo errado e lucrando, aí o dinheiro fala mais alto. É preciso que todos sigam as regras.
DONOS DE BARES SE DEFENDEM
Fechados por mais de um mês no ano passado a partir de fiscalizações motivadas por denúncias de moradores, os vizinhos Alfa Bar e Alice Bar, na Rua Sorocaba também recebem frequentadores do Comuna, quando o bar que fica do outro lado da rua fecha as portas. O burburinho é grande. No último sábado, a equipe de reportagem do GLOBO esteve no local e constatou que mesmo com diversas mesas disponíveis nos salões, os clientes preferem ficar nas calçadas, em mesas dispostas pelos estabelecimentos ou até mesmo em pé.Proprietário do Alice Bar, Samuel Cabral diz que vem tentando minimizar os transtornos para os vizinhos retirando as mesas externas mais cedo durante a semana - por volta das 2h, enquanto aos finais de semana deixa até 3h. E se defende garantindo que quando ocorre música nas calçadas trata-se de manifestações espontâneas, tolidas pelos próprios comerciantes.
- No último episódio que tivemos de pessoas fazendo música nas calçadas eu mesmo chamei a polícia. Nesse caso nem eram frequentadores dos bares, estavam do outro lado da rua, com isoporzinho. Sempre pedimos com jeito, mas quando não nos atendem precisamos tomar uma atitude, porque não quero a imagem do bar relacionada a essa questão de desrespeito por som alto. Já com relação ao falatório na rua é complicado controlar. O bar tem três andares e 400 metros quadrados. Espaço não falta, mas o público quer ficar na calçada, é cultural. Eu poderia até tirar as mesas da calçada, mas essa regra teria que valer para todos os bares de Botafogo, porque vão sair do meu e vão para outro na rua de trás - declarou o comerciante, que coleciona R$ 70 mil em multas emitidas pela prefeitura.
Funcionário do Alfa Bar, Lázaro Alves também garante que não aceitam música e cantoria.
- Sempre tem uma galera mais animada, mas a gente não permite música. Esses dias vieram com saxofones e começaram a tocar na calçada. Pedimos para que não continuassem, eles pediram a conta e continuaram a tocar do outro lado da rua - conta.
Frequentador do Alfa Bar e morador do bairro, Flávio Valente julga ser um exagero a reclamação dos vizinhos incomodados com o barulho:
- O Alfa e essa região mantém a tradição carioca da descontração. Aqui é um reduto tradicional da cultura carioca. Essas pessoas que reclamam não sabem viver - diz.
Já a para a professora Aline Cardoso, que sempre frequenta ao Alice Bar com o engenheiro de som Luciano Tavares, realmente há um excesso de parte dos frequentadores:
- O bar tenta ser democrático. O som deles é ambiente, mas tem pessoas que se excedem, são sem limites. A gente adora vir pra cá. É uma delícia poder beber uma cerveja ao ar livre, mas temos que respeitar a vizinhança - pondera a frequentadora.
A questão do uso de drogas também foi abordada por Luciano.
- Não é uma questão de julgar ser certo ou errado. Não importa o que a gente faça é preciso ter respeito ao próximo - argumenta o engenheiro.
Em nota, Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização da Prefeitura do Rio (CLF) explica que realiza operações de fiscalização constantes na região, com aplicação de multas.
"Para a cassação do alvará é necessário o cumprimento de alguns procedimentos, por lei. Mas caso não se adeque, o estabelecimento terá sim sua permissão cassada", esclarece a CLF em nota.
Já a Superintendência da Zona Sul lembra que nesta terça-feira realizou uma fiscalização e multou três bares em Botafogo que fincaram barras de ferro nas calçadas. Outros quatro bares foram multados por incômodo à vizinhança.
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